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Taco de Golfe - Nó sem Ponto II

Atualizado: 10 de jan. de 2021

Taco de Golfe lança seu segundo disco, baseado na vida na cidade e suas (pueris) relações, ansiedade e aflição, tudo isso sem falar uma palavra sequer


por Alisson Mota


Hoje, 24 de abril, é o dia do lançamento do novo disco do trio instrumental sergipano Taco de Golfe. Nó sem Ponto II chegou num dia chuvoso, cinza e friorento. Os caras se inspiraram, pelo menos em parte, na frieza das relações humanas, na falta de comunicação, na aflição e na ansiedade presentes na vida urbana.


Por completa obra do acaso, o clima do dia veio a calhar.

Capa de Nó sem Ponto II. Ilustração de Gabriel Galvão.

O novo trabalho apresenta um som mais recheado, característica proporcionada em certa medida pelo abuso do pedal com loops utilizados na guitarra, influência direta do guitarrista norte-americano Ian Williams (Don Caballero, Battles). O resultado é a criação de músicas não mais somente baseadas em riffs e harmonias, mas na criação de verdadeiras paisagens sonoras que evidenciam a sinergia entre o orgânico e o eletrônico.


Neste registro, a Taco de Golfe reafirma a técnica arrojada do trio e escancara a influência de sonoridades mais pesadas, baixos mais agressivos, baterias que não estão nos compassos automáticos e a guitarra bipolar, por vezes até esquizofrênica. Tudo isso ajuda a compor a ideia ansiosa e aflita do trabalho. A parada é ouvir com calma, prestando atenção a todos os mínimos detalhes. Parece que a cada audição aparece um elemento novo que não havia aparecido na audição anterior.


Sentei por mais ou menos uma hora com a banda, entre um dia e outro da gravação do disco, lá no começo de novembro do ano passado. A ideia era conversar sobre o álbum e seus processos, sobre a trajetória da banda, mas a conversa acabou descambando pra BolsoThanos, tuítes do Carlos Bolsonaro e a amizade dos filhos do presidente com os caras do Forfun.


"Fabrício não erra não, Fabrício é foda"


Foi uma das primeiras frases que ouvi quando sentei pra trocar essa ideia, dita por Filipe Williams, baixista, e repetida por Alexandre Damasceno, o "Mesk", baterista. Fabrício é Fabrício Rossini, produtor que foi o responsável pela gravação, mixagem e masterização do disco. "Acho que aqui em Aracaju é a única pessoa que conseguiria compreender nossas ideias, ele saca muito as nossas referências, além de ser hiperpaciente", disseram Gabriel Galvão, guitarrista do trio, e Mesk.


Filipe comentou que, numa conversa com o tecladista da The Baggios, Rafael Ramos, soube da empolgação de Rossini em trabalhar com a banda. Muito disso se deve às referências em comum, como o produtor norte-americano Steve Albini, que produziu bandas importantes no cenário alternativo dos anos 80 e 90, como Pixies, Fugazi, Helmet e Don Caballero. Esta citada pelos músicos como uma das maiores referências da Taco de Golfe.


"Improvisação é o que mais rola"


A forma de construir as músicas do trio é muito baseado em jams, concebidas a partir de ideias de cada um dos integrantes. "Um mês antes de gravar a gente não tinha quase nada, só 15 minutos de música, porque cada um tinha uma ideia, gravava rapidão e mostrava pros outros", comenta Filipe, complementado por Galvão: "a gente tinha várias ideias, mas desorganizadas. Quando fomos gravar, o que a gente fez foi reorganizar as ideias em 10 músicas".


Galvão e Mesk. Taco de Golfe no Fasc 2019. Foto: Felipe Goettenauer

Sobre o processo de gravação em si, as ideias foram se organizando à medida que a data de gravação foi se aproximando. "Dois meses antes de gravar a gente tinha uma perspectiva totalmente diferente de como a gente ia gravar essas coisas. À medida que foi chegando a hora de gravar, fomos fazendo improvisos pra chegar no resultado. Improvisação é o que mais rola, em tudo", comenta Mesk.


O álbum foi gravado em três dias, no estúdio Maca Records, que tinha sido aberto apenas 1 mês antes e que conta com uma estrutura sem par no estado de Sergipe. "Na real mesmo, quando a gente chegou no estúdio e viu que era foda, a gente ficou 'caralho...', a ficha caiu e se instigou para aproveitar a estrutura", confessa Filipe.



Nó sem Ponto II guarda algumas diferenças com o primeiro disco da banda, Folge, ainda que ambos sejam baseados em improvisação. Galvão define Folge como uma "colcha de retalhos", porque as músicas - inclusive partes delas - foram concebidas em momentos diferentes. A mixagem e masterização ficaram por conta de Anderson Kabula (vocalista e guitarrista da Ordinals), trabalho que foi pago com o cachê do Quinta Instrumental, evento mensal promovido pela Prefeitura de Aracaju.


Trajetória e perspectivas


Entre a gravação e o lançamento do novo álbum, o trio fez uma turnêzona que passou pelo Nordeste, Sudeste e Sul, tocando em grandes festivais do cenário da música alternativa do país - como o No Ar Coquetel Molotov, em Pernambuco - e com showcase na Semana Internacional da Música, a SIM, realizada em dezembro e que é o maior evento do mercado musical independente da América Latina. Isso além da gravação de várias sessions, do Festival de Artes de São Cristóvão (Fasc) e do Festival DoSol, no Rio Grande do Norte.


A banda atribui a possibilidade de circular por diferentes eventos e estados à participação na Formemus (Formação Mercado Musical, feira de música realizada em Vitória-ES), onde trocaram experiência e contatos, através do Gagau (Matheus Reckziegel, produtor e 4º elemento da banda), com produtores importantes no cenário nacional, como Kátia Abreu e Pena Schmidt. "Com certeza a gente só conseguiu essa participação na SIM e tocar no Coquetel Molotov porque aparecemos nos stories de alguém importante que viu nosso show na Formemus", confessa Mesk.


A banda já tinha uma boa perspectiva para novas turnês em outras regiões do país, mas os planos foram suspensos por causa da políticas de isolamento em virtude do novo coronavírus. Pela frente a banda tem o desafio de divulgar um álbum sem fazer shows presenciais, o que é um baita desafio. Mas deve vir mais novidade por aí.


 

Ouça Nó sem Ponto II


Ficha Técnica

Gravado no estúdio Maca Records

Alexandre Damasceno - Bateria

Filipe Williams - Baixo

Gabriel Galvão - Guitarra e pedais


Gravação, mixagem e masterização por Fabrício Rossini


Ilustração de capa por Gabriel Galvão

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