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Os Álbuns Sergipanos da Década

  • Acorde
  • 29 de mai. de 2020
  • 13 min de leitura

Atualizado: 17 de jun. de 2020

Texto de apresentação por Alisson Mota

Lista por Alisson Mota, Rafa Aragão e Rian Santos


Em Sergipe, a música tem sido tratada, através dos anos, sem a seriedade necessária pela maioria dos agentes envolvidos em toda a cadeia cultural. Se a falta de políticas públicas e o explícito desdém do Poder Público ocupam uma parcela significativa desse destrato com as artes no estado, outra parcela se divide entre a própria classe artística e os profissionais envolvidos com as manifestações artísticas, desde produtores até técnicos de som e iluminadores. Muitas vezes o desânimo toma conta e os resultados acabam não sendo satisfatórios. O potencial acaba se perdendo por falta de esperança de um retorno digno a um trabalho bem-feito.


Resultado disso é que, num quadro geral, as artes - neste caso a música - acabam sendo levadas na esportiva. Não existe uma visão mais assertiva no sentido de consolidar um nicho de consumo artístico pelas bandas de cá. Por muitas vezes, esse nicho se limita a guetos artísticos, onde os consumidores dos produtos culturais acabam se resumindo às pessoas que estão no entorno desses trabalhadores da cultura. A rigor, em Sergipe, você só consome um produto artístico que esteja fora do dito mainstream se você tiver o mínimo de contato com aquele artista que está produzindo.


Por essas e outras, não é difícil encontrar por aqui um desavisado banhado em senso comum que profira a frase "por aqui nada acontece" ou até mesmo "ninguém faz nada que preste em Sergipe". Para quem está envolvido na produção cultural, ainda que indiretamente, é doloroso ouvir tais colocações. Mas é preciso que elas sejam entendidas no seu sentido mais amplo: a cena precisa se levar a sério para ser levada a sério e ser considerada relevante, com valor.


Um dos Cérberos nesse quadro é a concentração midiática, que privilegia uma dupla de produtores-empresários que aparecem com novos enlatados ano após ano, usando artistas populares como verdadeiras galinhas dos ovos de ouro para a perpetuação da mediocridade artística no estado. Por outro lado, o Estado, através dos órgãos que deveriam fomentar a diversidade cultural, coaduna com essa concentração, movimentando recursos e pessoal para intensificar a desertificação cultural.


Partindo dessa problemática, surgiu a ideia no aCorde de realizar a lista de Álbuns Sergipanos da Década. Rafa Aragão, dj e pesquisador musical me fez a primeira provocação, assim que houve a virada da década. Imediatamente pensei em fazê-la também com a colaboração de Rian Santos, que é o maior responsável pelo acompanhamento, divulgação, catalogação e atribuição de valor à música feita na terra Serigy.


A principal intenção da lista é mostrar ao público, ao Poder Público e aos próprios artistas que a produção sergipana é relevante, original e tem potencial de ser disseminada dentro e fora dos limites estaduais. Não adianta partir para a tergiversação capitaneada pela lenda do Cacique Serigy. Aqui a gente mostra que sim, as coisas acontecem por aqui. E "de com força". Com mais dedicação e cuidado por parte de todos os envolvidos na cadeia cultural, as coisas podem dar certo.


A metodologia formada com a participação de três jornalistas na construção da lista foi pensada para ampliar o leque de análise das obras. Três profissionais que têm experiências e percursos diferentes dentro da cena cultural do estado, que num primeiro momento, a partir da elaboração das listas individuais, proporcionou a criação de um panorama da música feita em Sergipe. Num segundo momento, com a formulação da lista definitiva, se percebem as intersecções e quais são as obras relevantes, que conseguem abrir diálogo em diferentes espaços: seja num auditório que acompanha o espetáculo inerte ou numa dispersa ocupação de rua.


Nesta lista definitiva contamos com dez obras que contêm valor artístico incontestável. Mas para chegar nesses dez, foi preciso passar por, pelo menos, mais duas ou três dezenas de trabalhos com nível semelhante. As diferenças entre uns e outros é sutil e, como dito anteriormente, foram privilegiados aqueles mais universais, que têm maior capacidade de dialogar com públicos amplos. E isso é pra tentar afastar de vez a urucubaca que destina a música independente aos guetos. O potencial existe e precisa ser explorado. É esta a mensagem central da lista, para além da tarefa crítica de curadoria dos álbuns. A crítica aqui é um instrumento de atribuição de valor à cena musical de Sergipe.


É com o sentimento de esperança, com o olho banhado em sangue e matando a mediocridade à unha, que os Álbuns Sergipanos da Década vêm à tona. Aproveite, desfrute, ouça, conheça e mergulhe. Há muito mais a explorar do que essa pequena amostra que trazemos aqui.



Alex Sant'Anna - Enquanto Espera (2015)

Alisson Mota

O segundo registro do trabalho solo de Alex é uma compilação de composições feitas no espaço de quase dez anos. A habilidade de juntar composições diversas sob uma só estética é louvável. Aqui, tem um monte de riffs de guitarra que eu me amarro, distorções, flertes com beats eletrônicos e sintetizadores. Um álbum de caminho, o meio-de-campo pra Alex se confirmar como o artistão que é hoje, com Baião Amargo (2020) a tiracolo.


Rafa Aragão

Enquanto Espera é a afirmação de Alex Sant'Anna enquanto intérprete e compositor. Se o trabalho na Naurêa lhe tinha dado destaque, faltava mostrar que também era grande com o projeto solo. Compositor de mão cheia, assina onze das doze músicas do disco. Com produção de Leo Airplane e uma banda afiadíssima e ótimas participações, o álbum consegue mostrar as várias faces de Alex, para além do sambaião. Destaque para faixa-título, para o mantra atemporal Cansado, a roqueira Verniz e Engolindo Sapo.


Rian Santos

Um argumento em favor do tempo da criação. Enquanto Espera (2015), segundo disco de Alex Sant’Anna, levou mais ou menos dez anos para ascender à flor da matéria. Nem por isso padece de alguma espécie de falta em relação ao instante. Embora boa parte das canções aqui reunidas já tenha sido divulgada em versão anterior, nos diversos EP’s lançados nesse intervalo, o conjunto que dá forma à obra é rigorosamente pontual. O compositor, aqui e agora. Amanhã ninguém sabe.



Cabedal - O Novo Pastiche & O Pastiche Novo (2010)

Alisson Mota

O único álbum da Cabedal é um chamado à alegria, na sua forma mais legítima. Desde a melodia malemolente, passando pela herança sincopada do telecoteco, pela reprodução do samba-rock, até as letras que são verdadeiros manifestos à vida em festa. O registro mais divertido da lista, de certo. Coloque pra tocar no churrasco de domingo - quando passar a pandemia, obviamente - e veja o estrago!


Rafa Aragão

A Cabedal foi daquelas bandas que apesar da qualidade e de um bom público infelizmente teve vida curta na cena sergipana. Fazer música não é fácil. No entanto, o grupo deixou um registro para posteridade bastante valioso, O Novo Pastiche e o Pastiche Novo. O álbum consegue captar a essência da época, onde as boa parte das bandas buscavam fugir das barreiras conceituais, porém nem todas tiveram sucesso.


Rian Santos Parece que os caras amarraram o diabo na munheca. Além das letras inspiradas, canções como Emplastro Brasileiro, Menina, O Girassol do Teu Vestido e Batucada possuem uma pegada irresistível, cujo ápice é a explosão do wah-wah de A Consolação.



Cidade Dormitório - Fraternidade-Terror (2019)

Alisson Mota

Com certeza é o álbum mais millenial da lista. O trabalho segue um fio baseado nas inquietações de um jovem adulto e tem robustas influências do indie lo-fi, como o Boogarins do começo da carreira e Daniel Johnston. Mas talvez o grande lance da banda seja o vocal bêbado - e agora notadamente nordestino - de Yves Deluc.


Fraternidade-Terror é o primeiro álbum da banda, sucedendo o EP Esperando o Pior, e marca a consolidação da identidade estética, que conta com as composições de Yves (voz e guitarra), acompanhado de Fábio Aricawa (bateria) e Lauro Francis (baixo), além de João Mário (guitarra) nas apresentações ao vivo.


Rafa Aragão

Dramas, romances, muita melancolia e um pouco de filosofia passeiam pelas músicas de Fraternidade-Terror, o trabalho de estreia da jovem Cidade Dormitório. O som psicodélico e experimental lembra outras bandas do cenário roqueiro atual, no entanto, o álbum tem bastante identidade própria. Essa identidade pode ser vista tanto nas letras, como na sonoridade feita por Yves Deluc (voz e guitarra) assim como no baixo de Lauro Francis e na bateria de Fábio Aricawa.


Rian Santos O primeiro álbum da banda Cidade Dormitório caiu na rede com o peso de uma comédia psicodélica nonsense. A atmosfera das faixas é a de uma bad sem fim. Há humor, aqui e ali, mas cáustico. Não se trata de fazer tempestade em copo d'água, como a inflexão lombrada do vocalista Yves pode induzir um ouvinte desatento a imaginar. Mas de virar o romantismo (e, por extensão, as diferentes formas de sociabilidade) pelo avesso.



Maria Scombona - UnNu (2012)

Alisson Mota

O último registro da Maria Scombona apresenta a sonoridade da banda de forma cristalizada, madura. Todas as canções do funk de coco da banda são apresentadas sem rodeios e numa naturalidade que é proveniente da maturidade sonora da banda. UnNu foi lançado 10 anos depois do disco de estreia da banda e durante a discografia a evolução estética é facilmente verificável.


Em UnNu, a banda tem a intenção de se mostrar desnudada, como o título sugere (Un de unidade, Nu de nu mesmo). As conversas entre Henrique Teles e a guitarra de Saulo Ferreira são uma das misturas mais originais que eu já tive a oportunidade de ouvir. Tudo isso numa cama king-size bem fofinha composta por Robson Souza (baixo) e Rafael Jr. (bateria).


Rafa Aragão

UnNu é um trabalho consistente que faz jus a grande banda que é a Maria Scombona. É claro que alguém pode dizer que é fácil já que a banda une grande músicos (Saulo Ferreira – Guitarra, Rafael Jr – Bateria e Robson Souza – Baixo) e um ótimo cantor/compositor (Henrique Teles). A união de talentos ajuda, mas UnNu mostra uma banda que sabe o que é, com sonoridade madura e transitando por rock, coco e soul com bastante tranquilidade.


Rian Santos

A Maria nunca se apresentou tão confortável e caceteira. Uma banda despida de artifícios, com competência e cara dura para gravar o disco inteiro num tapa, sem os excessos dos overdubs, amparada exclusivamente pelos calos dos músicos e pela naturalidade expressa no sotaque de um compositor à vontade para soltar o verbo como bem entendeu.



Plástico Lunar - Dias Difíceis no Suriname (2015)

Alisson Mota

Em seu último registro, a Plástico não faz questão nenhuma de esconder sua motivação de existência ou de velar suas referências. Escancara o espírito do rock psicodélico setentista numa produção finíssima, com a abertura que é um convite à dança, à curtição. Mas o que me pegou mesmo foi Marcos Odara (bateria) cantando em Cancioneiro. E ao ver ao vivo bateu mais ainda. Doidera, bicho.


Rafa Aragão

A Plástico Lunar tinha a complicada missão de fazer um álbum tão bom quanto seu debut Coleção de Viagens Espaciais. Se Dias Difíceis no Suriname não supera o anterior, também não deixou cair a qualidade da banda. O grupo mantém as influências do rock sessentista e psicodelia sem cair em clichês comuns a quem se arrisca por esses mares. Por falar em mar, destaco a musica Mar de Leite Azedo como uma das melhores do álbum. 


Rian Santos Um fruto nunca cai longe do galho. O desacreditado Dias Difíceis no Suriname, segundo disco oficial da Plástico Lunar, não faz muito arrodeio antes de reivindicar o status conquistado em alguns dos palcos mais importantes do país. O riff rasgado na faixa de abertura entrega o ouro. Tratamos aqui de uma banda de rock orgulhosa e consciente da própria condição.



Renegades of Punk - Coração Metrônomo (2012)

Alisson Mota

Na boa, pra mim a Renegades é a melhor banda de hardcore punk do Brasil. Falo isso sem qualquer resquício de bairrismo (talvez um pouco, vá lá). A originalidade deles é algo que eu não consigo enxergar um par neste país. Só consigo ver uma correspondência na Europa, com bandas como a francesa La Fraction. É muito foda ter uma mulher à frente do projeto, cantando com um dos timbres mais raivosos que eu já ouvi na vida.


A influência das bandas straight-edge (minha vertente preferida do punk, ainda que eu não siga nada do que eles pregam) é visível, mas o som é muito particular, a execução dos instrumentos por Daniela Rodrigues (voz e guitarra), João Mário (baixo) e Ivo Delmondes (bateria) formam um som totalmente novo, algo muito difícil quando se trata de punk, que por vezes, assim como o reggae, é tratado de forma hermética.


Rafa Aragão

Coração Metrônomo não é apenas um dos melhores discos produzidos em Sergipe na última década, é um dos melhores discos do gênero no Brasil. Rápido e barulhento, no entanto, o disco passa longe dos clichês. Daniela Rodrigues (voz e guitarra), João Mário (baixo) e Ivo Delmondes (bateria) fazem punk/hardcore como deve ser, sem arrudeios e com algo a dizer. Destaco a faixa-título e a música que fecha o disco, Vida Real.


Rian Santos Nas palavras de Daniela Rodrigues (guitarras e vocais), Coração Metrônomo pode ser definido como “a mesma merda de sempre”. Singelo. O pior é que faz sentido. Vigoroso, o disco faz justiça ao ideário de músicos apegados às próprias premissas, apesar dos dogmas vigentes nos círculos fechados pelos quais transitam. O batismo da banda pode até ser fruto de uma brincadeira, como li, por acaso, numa entrevista, mas desconfio que também não se deu à toa.



Sandyalê - Um no Enxame (2014)

Alisson Mota

Este é o disco de triphop de Sergipe. Ainda que baseado em sons orgânicos, os espasmos eletrônicos do trabalho conferem uma aura de novidade. Pra fechar o pacote, tem a interpretação de Sandy, com sua voz recheada de personalidade. O resultado é um álbum com uma overdose de hits. Hoje o trabalho me soa um pouco redundante, visto a quantidade de trabalhos na mesma vertente produzidos desde então no país. Mas está longe de ter apagado seu enorme mérito de reoxigenar a música feita em Sergipe com novos elementos, nada ortodoxos.


Rafa Aragão

A escolha desse álbum da Sandyalê foi pelo impacto, pelo menos pra mim, que ele teve na época. Poucas vezes tinha visto alguém chegar tão bem com um trabalho de estreia. Tudo muito bem feito, desde os arranjos ao projeto gráfico. O álbum já abre com bastante personalidade em A Fila e assim segue. Acompanhada de grandes músicos, a cantora fez um debut com bastante frescor, originalidade e mostrando que não estava a passeio.


Rian Santos

Vira e mexe aparece alguém para apertar o F5. O refresh aqui em questão é obra e graça de Sandyalê, que emprestou uma voz cheia de personalidade a meia dúzia de compositores locais, sangue novo e cheio de gás, atualizando as referências musicais a disposição dos curiosos com os pés enterrados na poeira da aldeia. Bem a tempo.



Taco de Golfe - Folge (2018)

Alisson Mota

O álbum marca o primeiro esforço do trio em produzir um trabalho minimamente coeso, após o EP de estreia, Cato (2017), gravado com o intuito de participar da seleção para o festival Zons daquele ano. As canções surgiram de jams e experimentações que a banda fez no intervalo de mais ou menos um ano. O resultado são faixas instrumentais robustas, que são capazes de atribuir a alcunha de power trio à banda.


Bebendo de referências diversas, do heavy metal ao jazz e do math ao funk-rock, a Taco cristaliza aqui sua sonoridade, lapidada no álbum lançado neste ano. É uma banda única que soa universal, cuja sonoridade tem potencial pra rodar o mundo todo.


Rafa Aragão

Quando você para pra ouvir com atenção Folge, álbum de estreia da Taco de Golfe, você entende todo burburinho que se faz quando se fala no trio. As vezes caótico, as vezes psicodélico, mas nunca enjoativo. Os meninos demonstram muita técnica e uma variedade sonora que deixa tudo bom de se ouvir.

Como bem disse Alisson Mota, o som deles é universal, pode ser apresentado em qualquer lugar do mundo que será entendido. Alexandre Damasceno (bateria), Gabriel Galvão (guitarra) e Filipe Williams (baixo) conseguem mostrar entrosamento com musicas que viajam pelo rock progressivo, jazz e outras influências.


Rian Santos

É de cair o cu da bunda. Timbres e dinâmica, assinatura inconfundível, remetem a Cato, o EP lançado antes. Os loops de guitarra, a arquitetura circular dos temas, convidam a uma espécie de transe. Depois que o sujeito aperta o play, o eu subjetivo não manda em nada. Além da música, afirmação de si mesma, resta o mundo inteiro – rumor e barulho.



The Baggios - Brutown (2016)

Alisson Mota

Aqui a parada começa a ficar grandona para os Baggios. Aquela banda do rock cru de riffs cortantes com os dois pés no blues-rock se desenvolveu em direção de uma sonoridade inédita, com construções suingadas e melodias mais complexas. Funk, maracatu e psicodelia nordestina são apenas alguns dos novos elementos que a banda passou a adotar. Hei de frisar também a entrada de Rafael Ramos (teclados) na banda, que trouxe uma estrutura muito mais firme nas canções, permitindo mais divagações por parte de Julico (guitarra e voz) e Perninha (bateria).


Rafa Aragão

Foi difícil escolher um disco da The Baggios. Com três grandes álbuns lançados nessa década, o grupo mostra porque se tornou referência da música feita no estado. Brutown é o grande salto da banda, cravando de fato sua identidade, formando parcerias e assim construindo seu nome para além da terra Serigy.

É nesse disco que o ainda duo Julico (vocal e guitarra) e Gabriel Perninha (bateria) começa abrir de fato espaço para chegada em definitivo de Rafael Ramos (baixo e teclado). Aqui estão todas as influências rock e blues que o grupo carrega, com muita guitarra e sotaque nordestino.


Rian Santos

Apontar a maturidade do guitarrista Julio Andrade é chover no molhado. A competência do seu blues/rock, parido e ambientado no interior sergipano, é manifesta desde o lançamento do primeiro EP batizado The Baggios (2007) – quando um moleque sem dinheiro e sem mulher, fodido e mal pago, teve a manha de se afirmar criativamente cantando a vida sem graça de sua São Cristóvão natal.


De lá pra cá, muita água passou embaixo da ponte. Julico ganhou moral, gravou discos e DVD, deixou a barba crescer e conheceu o mundo. Apesar da experiência acumulada, com os reflexos previsíveis na música dos Baggios, no entanto, os pontos de referência do compositor permaneceram exatamente os mesmos. Os prédios de áurea decadente na capa do disco talvez enganem os incautos. Mas, no limite, Brutown passa longe de uma cidade inventada.


A excelência do duo de guitarra e bateria (Gabriel Perninha, o cara das baquetas) pode não ser um dado novo. Mas a sua afirmação nunca se pronunciou com tanta força. Brutown não economiza recursos. Além das guitarras no talo, o arsenal de praxe, colaborações luxuosas e sonoridades estranhas à seara habitual da dupla exprimem uma ambição de grandeza perfeitamente oportuna. Os Baggios arregaçaram.



Tori - Ignatia, (2019)

Alisson Mota

Tori apresenta em seu primeiro álbum uma complexidade sinistra, digna das bandas mais reconhecidas do que se convencionou chamar de neopsicodelia. A construção é complexa, repleta de camadas e dissonâncias que compõem uma atmosfera onírica que permeia todo o trabalho. Interessante também observar as instrumentalizações vocais de Victória Nogueira. O trabalho é uma síntese de referências de música brasileira, principalmente a MPB dos anos 70, e as pérolas da psicodelia em todo o mundo, como Melody's Echo Chamber.


Rafa Aragão

Tori já tinha surpreendido com o EP Akoya (2016) e Ignatia, (2019) é a continuidade do bom trabalho feito três anos antes. A banda formada por Vitória Nogueira (guitarra e vocal), Júlia Rocha (teclados), Beatriz Linhares (baixo), Alexandre Damasceno (bateria), Ricardo Ramos (guitarra) e João Mário (percussão e sintetizadores) passeia por melodias psicodélicas, experimentalismo e jazz. As musicas são bem elaboradas e vão da suavidade à agitação no tempo certo.


Rian Santos

Quando compôs La Vie em Gole, uma canção singela, há mais ou menos quatro anos,

Tori tinha 15 e resolvia quase tudo sozinha, de bem com o violão. Mais tarde, foi obrigada a trocar de pele para dar forma ao EP Akoya (2016), o seu primeiro projeto de fôlego. Agora, ela assume a guitarra e deixa o lirismo do registro anterior de lado, com o fim de ir direto ao ponto. Ao evitar os arrodeios de uma poesia elaborada, Tori acabou compensando a lisura das letras sem adornos com uma ambiência muito sofisticada. Ignatia, é um trabalho de gente grande.




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