Julico - Ikê Maré (álbum)
- Acorde
- 10 de nov. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 10 de jan. de 2021
Seu primeiro registro solo traz a herança da black music, que mistura groove e espiritualidade
por Alisson Mota

Há poucos dias, Julico pôs no mundo seu primeiro álbum solo, Ikê Maré. Quem já ouviu pôde sentir a potência do novo trabalho, que soa como um registro sem par. Eu teria muitas coisas a falar sobre o trabalho e como ele me tocou, seja pela música ou pela mensagem. Mas na real vou me ater ao conceito fundador do álbum. Assim como na Baggios, dá pra sacar que todo o trabalho de pesquisa se condensa numa identidade própria, num som inconfundível.
O lance é que Ikê Maré já é foda por isso, mas ele, de longe, não para por aí. Vai além ao carregar consigo signos e manifestos que vão contando a história do compositor através da sua preocupação com o estado de coisas, com suas próprias chagas e, sobretudo, com o contato espiritual.
Aí acaba que o álbum consegue ser muito mais do que música - feito raro nos dias de hoje, onde a busca por mais plays, mensagens extremamente diretas (quando existem) e ambientações mais efêmeras acabam dando o tom da maioria esmagadora da produção fonográfica.
Me afeta na ponta dos dedos, tocar salvou minha vida. Não quis saber de medo, não quis saber de briga. Vou te contar um segredo... pra tudo tem uma saída. Vão te fechar as portas, mas não perca a instiga!

Ikê Maré consegue transcender o álbum, porque traz consigo uma atmosfera. Atmosfera essa que é anterior ao álbum, anterior mesmo à existência do próprio Julico. Quando o compositor mergulha de cabeça na black music, ele mergulha também no seu universo e consegue captar sua essência: um nova síntese musical que bebe diretamente da espiritualidade, seja na sonoridade ou nos conceitos (Curtis Mayfield e Sun Ra que o digam).
E essa espiritualidade não passa por devoção ou credo. Mas o contato com o seu interior, a algum tipo de caminho para a plenitude. E aí é que entra a sacada: Ikê Maré é o conceito de uma entidade, ou, nas palavras do próprio Julico, o "deus-tempo".
Na entrevista que fiz com ele ao vivo no dia do lançamento do single Nuvens Negras, o compositor explica que Ikê Maré toma conta da nossa evolução como pessoas, que cura os traumas tratando-os como momentos necessários pra que a gente possa evoluir, melhorar. Muito dessa filosofia vem do contato do compositor com a obra de Paramahansa Yogananda, que incita o contato com o interior, jogando no campo da paciência com as coisas, as pessoas e seus processos.
No fim, para além da obra em si, Julico oferece em Ikê Maré um mergulho interior, um convite à reflexão, um manifesto. Ao mesmo tempo que é pesado também é mântrico. Consegue ser leve, embora denso. Descompromissado, mas focado.
É Caípe, Itaparica e Himalaia.
Ficha Técnica
Produzido por Julico
Mixagem e Masterização: Leo AirPlane
Bateria: Ravy Bezerra
Captação de bateria: Dudu Prudente
Guitarra, Baixo, Teclas, Violão e Voz: Julico
Foto da capa: Victor Balde
Assistentes de Fotografia: Eduardo Freire Souza e Ellen Andrade
Figurino: Fernanda Marques
Selo Toca Discos
Participações
André Lima: Trompete na faixa 03
Diogo Rocha: Saxofone na faixa 03
Curumin: Vocais na faixa 04
Rafael Ramos: Teclas na faixa 04
Leo Airplane: Teclas nas faixas 05, 06 e 12
Winnie Souza: Vocais nas faixas 03, 06 e 09
Vinicius Bigjohn: Sanfona na faixa 11
Sandyalê : Vocais na faixa 12
Meire Andrade e Ellen Andrade: Coro nas faixas 04 e 12
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