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Felipe Nunes - Entropykos (EP, 2020)

Atualizado: 7 de abr. de 2020

Em seu EP de estreia, o cantor sergipano radicado no Rio Grande do Norte mostra seus devaneios ancestrais


por Alisson Mota



Depois de lançar o single Mandinga, em novembro de 2019, Felipe Nunes lança seu primeiro EP, Entropykos (Rizomarte Records). O trabalho transita entre o ancestral e a vanguarda, linha tênue expressa na mistura dos timbres orgânicos com os sintetizadores, batidas eletrônicas e a atmosfera etérea presente nas canções.


O EP em si é um amálgama. Mas a ancestralidade trazida por Felipe também é amalgamada e tem endereço. É bem localizado no nordeste brasileiro e consegue juntar referências diaspóricas de África e elementos da cultura indígena, que são base da formação socio-cultural brasileira. Muito dessa perspectiva se deve à formação de Felipe, que está para concluir o mestrado em antropologia social na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).


"A solução foi misturar tudo", diz Felipe Nunes. Foto: Augusto Junior

O nome do EP é outro amálgama, entre entropia (termo da física onde, a grosso modo, afirma que estamos sempre a se multiplicar e se movimentar) e tropicalismo. Felipe explica: “o EP buscou contar a história através de narrativas contra-hegemônicas. Sabemos que viemos de muitas direções e temos inúmeras histórias para contar. Entropykos nasce da simbiose entre entropia com a palavra tropicalismo, que foi a minha primeira escola filosófica-musical ainda na adolescência".


O compositor acrescenta: "o nome é um reflexo literal do trabalho, onde buscamos amalgamar diversas sonoridades sobre as histórias que formam a identidade cultural brasileira. Tenho muitas referências teóricas e sonoras, ao mesmo tempo desejava não estar preso a nenhuma delas. A solução foi misturar tudo''.


Foto: Augusto Júnior / Direção de Arte: Rodrigo Costa, Augusto Júnior e Felipe Nunes

A capa também tem um significado explicado na ancestralidade, já que a cabeça de boi é um símbolo místico presente nas culturas de muitos povos originários. ''A capa foi pensada conjuntamente com Rodrigo Costa (artista visual e designer) e Augusto Júnior (antropólogo e fotógrafo) e traz a sobreposição ótica entre o humano e a cabeça de um boi que é um símbolo milenar presente em diversas culturas (ocidental, oriental, africana, ameríndia) com distintos significados", revela Felipe.


"Dentre o significados, está o de princípio organizador da vida, amuleto, de proteção da colheita e do alimento. Ela está representada em inúmeras tradições culturais como muata calombo, munhanhe, minos, boi de reis e tantos outros. É possível encontrá-la desde as selvas africanas, palácios greco-romanos até nas matas do sertão brasileiro'', conclui.


Trazendo a releitura da história e apontando caminhos de vanguarda, Felipe Nunes traça um caminho sem par. Num processo que demonstra ser calcado na sua experiência antropológica, evoca a ancestralidade para contar essa história, baseada em luta, resistência, cantos e encantos. Um registro que evoca o passado, mas não fica preso a ele.


Ficha Técnica

Gravado no Estúdio Cigarra

Direção artística: Felipe Nunes, Henrique Lopes e Pedras Leão

Produção Executiva: Henrique Lopes

Produção Musical, Mixagem e Masterização: Pedras Leão

Edição de Áudio: Yves Fernandes (com exceção de “Mandinga”)

Direção de Arte e Capa: Felipe Nunes, Rodrigo Costa e Augusto Júnior

Fotos de divulgação e Capa: Augusto Júnior




Músicos participantes: Felipe Nunes, Henrique Lopes, Heather Dea Jennings (em Trabandá), Pedras Leão, Kleber Moreira, Rafael Melo (em Canto Ancestral), Tiquinha Rodrigues (em Trabandá e Resiliência), Walter Nazário (em Resiliência)

Selo: Rizomarte Records

Distribuição: Tratore

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