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Dami - Curva Certa (single)

Atualizado: 26 de out. de 2020

Curva Certa é o prenúncio do álbum Um Som, que será o segundo do músico, compositor e arranjador sergipano


por Alisson Mota


Foto: Isabela Moraes

Ouvindo pela primeira vez Curva Certa, o primeiro single de Dami em cinco anos, é percepetível que muita coisa aconteceu desde Acordando, seu até então primeiro álbum solo. Hoje o single é lançado junto à campanha de financiamento coletivo do álbum, que tem um grande time de músicos, arranjadores e convidados, com gente do quilate de Pedrinho Mendonça, Lucas Campelo e o mais que saudoso Roberto Bartneck.


Se em Acordando é o violão quem manda, em Curva Certa já dá pra sacar um caminho onde as 6 cordas acústicas começam a fazer algumas concessões. Nesse primeiro lançamento, é evidente a referência à Gilberto Gil, potencializada pela guitarra e pelos reverbs de João Mário, tocou e arranjou músicas do novo trabalho.



O single também mostra um Dami menos hermético, explorando a potencialidade do time-base que gravou o trabalho. Além do violonista e João Mário, conceberam o álbum Rafael Ramos e Danyel Nanume, além dos arranjadores Artur Barreto e Demétrio Varjão. Música sem amarras e sem rótulos, que sabe de onde vem mas ainda caminha para o desconhecido. Ainda. Numa aventura que é, no mínimo, um deleite.


Dami falou sobre o novo trabalho e as ideias que baseiam Um Som. Se ligue:


O single Curva Certa é a primeira vez que você mostra as caras no seu projeto solo desde Acordando, de 2015. É sabido que muito desse tempo se deve ao processo de organizar um novo trabalho inteiramente independente, mas como você enxerga e avalia esse intervalo entre os álbuns Acordando e Um Som?


Dami - Produzir é um esforço constante. Muitas das música que estão em Um Som eu já tinha vontade de gravar na época de Acordando! Mas a gente vai fazendo o que dá pra fazer... Nesse intervalo eu fui produzindo uma coisa aqui e outra acolá, sem pensar em disco nem nada. Daí rolou o FASC de 2018 - que eu toquei com João, Danyel e Rafa - e eu decidi gravar seis músicas com a banda ao vivo, só pelo registro. Fizemos isso em umas três sessões no final de 2018 e começo de 2019 no estúdio Orí. Depois de ouvi o material dessa gravação que bateu a vontade de fazer um disco. De lá pra cá eu fui reunindo uma galera pra trabalhar junto e poder realizar isso. Agora o disco já está em fase de finalização. Mas pra concluir sua pergunta, eu vejo esse intervalo de resguardo de criação necessário, só que nesse caso foi muito grande! Eu quero poder produzir com mais regularidade.


No seu primeiro álbum, havia uma exploração mais intensa dos arranjos de violão, com influência evidente de Villa-Lobos e da bossa-nova. Curva Certa já mostra um caminho eletrificado, intuindo uma forte presença de Gilberto Gil dos tempos de Realce. Por que esse giro?


Dami - Eu nem me dava conta dessa influência de Villa em Acordando, mas agora que você falou é realmente evidente! E essa transição para Gil é igualmente verdadeira! Minha relação com Gil foi curiosa, eu conhecia a música dele desde pequeno, mas só recentemente eu fui conhecer a obra mesmo. Não é à toa que eu fiz, junto com João Mário e Danyel Nanume, um Especial Gil por aí. Gil é um músico como poucos no mundo, um mercador de ritmos, e minhas composições são profundamente influenciadas pela música de Gil.


Agora, esse giro que você comentou aconteceu por outra razão. Eu já gostaria de usar essa sonoridade em "Acordando", mas eu não tinha as ferramentas necessárias ainda. Em Um Som eu tive a oportunidade luxuosa de tocar com uma banda de grandes músicos e, ainda mais, profundamente dedicados ao projeto! Quando a gente ouve essas seis faixas ao vivo atualmente, a gente fica surpreso com entrosamento da banda! Mas as outras faixas não estão tão eletrificadas, algumas músicas ainda lembram a época de Acordando.


Acordando era inteiramente instrumental e o primeiro single do álbum vindouro mostra você cantando. Por que incorporar seus vocais nas novas composições e como isso impactou na forma de conceber e trabalhar as músicas?


Dami - Na verdade a última faixa de Acordando é Gameleira, uma canção. Eu coloquei ela deliberadamente escondida no disco porque, na época, eu queria que o álbum fosse de música instrumental. Hoje eu vejo cada vez menos essencial essa necessidade de segmentar minha música. Eu faço muita coisa incoerente do ponto de vista estético, finalmente eu decidi que não tenho interesse de mudar isso. Eu sempre gostei de cantar. Antes mesmo de aprender violão, eu me lembro de ir no quarto de música que tinha lá em casa (minha mãe é professora de música) pegava as revistinhas de cifra e ficava horas cantando as músicas à cappella. Minha relação com a música é muito melódica. Eu sinto que demorei muito pra incorporar verdadeiramente a voz na minha música, agora eu estou mais satisfeito e correndo atrás do prejuízo, porque ao mesmo tempo cantar é muito complicado pra mim. O repertório de Um Som será composto por 12 faixas, 4 canções e alguns vocais espalhados por aí.


O time que participa de Um Som é praticamente o mesmo que gravou Acordando. Como se deu o processo de gravação de Um Som, de forma geral? Quais as semelhanças e diferenças entre os processos dos dois álbuns?


Dami - Apesar de ter muita contribuição de músicos (que também estão em Um Som), Acordando é quase um álbum solo porque ele foi concebido a partir de umas gravações caseiras minhas, eu toco violão, guitarra, flauta, percussão, metade das baterias é programada etc. Eu fui chamando alguns amigos (às vezes que nem eram músicos) só pra finalizar as faixas. João Mário fez a mix e eu lancei o álbum despretensiosamente. Já Um Som é um álbum muito mais pensado. Eu tive a oportunidade de fazer alguns arranjos do zero (como em Edelson Pantera nas Minas Gerais e Curva Certa) e de fazer arranjo com João Mário, com Rafael Ramos, com Danyel Nanume, com Artur Barreto e com Demétrio Varjão.


Nós conseguimos pensar e realizar a orquestração, que é a escolhas dos instrumentos que a gente usaria pra cada faixa, então convidamos músicos como Pedrinho Mendonça, Felipe Freitas, Manoel Neto, Maísa Nascimento, Filipe Williams, Roberto Bartneck, Wolfgang Ribeiro, Felipe Moraes, Lucas Campelo, Mário Augusto e André Lima. Foi um processo muito divertido, marcar uma tarde de gravação com um músico que trás sua interpretação e sua identidade pra minha música e ainda por cima poder conversar, trocar uma ideia, tomar um café, debater as visões de mundo... É por isso que eu faço música.


O lançamento de Curva Certa é também o lançamento da campanha de financiamento coletivo do álbum, cujo objetivo é remunerar toda a equipe envolvida na produção do trabalho. Por que escolher essa forma de financiamento? Quais as recompensas para o público e qual a expectativa para a campanha?


Dami - Foi uma decisão difícil porque eu tenho pouca experiência nessa área. Mas eu consegui me juntar com as pessoas certas pra o projeto fluir. Primeiro Rafael Amorim, que é um jornalista excepcional que eu chamei pra fazer o planejamento de comunicação. Depois Sueline Monteiro, que está fazendo a assessoria de comunicação. O trabalho deles dois está sendo essencial pra realização dessa campanha. O começo do projeto eu fui bancando como pude (e com a ajuda de vários amigos), mas essa etapa final tem um custo muito alto, por isso a gente decidiu fazer essa campanha de financiamento coletivo. Teremos recompensas como camisa, pôster, cartão, CD, um songbook com letras, cifras e partituras do repertório do disco, entre outras. A gente tá muito animado com a campanha porque o material que está surgindo tá muito bonito e a gente tá doido pra botar isso pra fora!


Qual a previsão de lançamento de Um Som e qual a "cara" dele? E quais as suas expectativas de carreira e repercussão com esse novo trabalho?


Dami - Nós temos uma previsão de lançamento entre novembro e dezembro. Um Som é um álbum que não foi idealizado antes da sua concepção, foi um trabalho que foi tomando forma aos poucos. No começo eu tinha muita dúvida em relação ao que o álbum representava, mas hoje eu já estou bem confortável com isso, porque os símbolos e significados que esse trabalho tem pra mim agora são tantos e são imensos. Como minha história com Roberto Bartneck, por exemplo, que faleceu há algumas semanas atrás. Nós dois temos uma conexão musical muito profunda, porque fomos conhecer a música do mundo juntos na adolescência e aí desenvolvemos nossos sonhos musicais, simbioticamente. Fizemos algumas músicas juntos e também alguns projetos, mas depois nos afastamos naturalmente por conta da vida. No entanto, eu sempre tive a certeza de que ainda faria muita coisa junto com ele porque eu sabia a gente ainda conservava muitos daqueles sonhos da adolescência. A ida dele foi muito repentina e ainda está reverberando.


Foi aí que eu lembrei que ele fez uma participação nesse disco, na faixa Curva Certa, uma canção que discute um pouco desse ciclo de vida e morte. E a interpretação dele está formidável, aliás! Além disso, esse disco vai ter uma faixa especial, uma música minha e de Bart que fizemos há muitos anos e que eu gravei com Levi Marques em 2014. Foi uma daquelas músicas que estavam engavetadas há muito tempo, mas que certo dia eu decidi escrever um letra em inglês, com o título When, de característica nonsense, mas vagamente baseada num conto de Hermann Hesse chamado Faldum. Algum tempo depois eu chamei Levi pra cantar e ele, como era muito criterioso e conhecedor da língua inglesa, fez diversas correções na letra no dia em que a gente gravou:


When I'll be sixty-eight, I'll travel by the mountains

When in a place between the middle of whole way

Where you can hear a wine flute from beyond

Just for a view without a flight


Essa faixa seria uma homenagem a Levi que era um grande amigo de Bart, mas agora é uma homenagem aos dois. Eu tô bem contente e animado com o resultado do álbum até agora, isso já me vale muito! Depois que a gente lança um trabalho ele não é mais nosso, ele vira do mundo.

Eu tenho duas expectativas para a repercussão de Um Som: a primeira é que as pessoas se divirtam ao ouvi-lo e a segunda é que ele me permita fazer mais outras tantas músicas.
 

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