A beleza das pétalas da flor com a dureza da suas raízes de aço: trio apresenta o groove aliado à letra politizada
por Alisson Mota
A Açocena mostra seu primeiro registro de música autoral com Fuleragem, o Fim. Este é o primeiro de três vídeos da live session Aos Vívidos, que você confere primeiro por aqui.
A inconformidade com a situação da política, com o caminho que a cidade trilha e o chamado à reação dão o tom da canção. A banda existe desde maio de 2019, com Camilo Santana (guitarra), Daguada (violão e voz) e Wilyane Corumba (percussão), sob a leveza do groove, mas batendo o pé e utilizando a música como instrumento de denúncia social, com a intenção de refletir sobre os temas trazidos nas canções e, sobretudo, transformar a realidade.
Em Fuleragem, o Fim, Daguada canta a safadeza dos políticos que Enganam o povo na eleição, usam chapéu de couro até apertam sua mão. A banda canta a realidade através da observação, como dá pra sacar quando cantam sobre o mangue da 13 de Julho, que é destruído dia após dia. Sem medo de dar nomes aos bois, Açocena é o equilíbrio entre a descontração e seriedade. Aquela brincadeira que deve ser levada (bem) a sério.
Musicalmente, a canção demonstra a originalidade do trio. O violão batucado de Daguada soa uníssono com a percussão de Wilyane, ditando o ritmo e estabelecendo várias pequenas conversas com os riffs de Camilo no seu decorrer. A banda se baseia em influências diversas, de dentro e fora da música, para poder chegar num resultado que soa único, pelo menos nas bandas de cá.
O experimentalismo, segundo a banda, parte da influência do Cinema Novo de Glauber Rocha e Nelson Pereira. O samba-rock, o afropunk e o funk, além do forró, são algumas da referências musicais do grupo. Mas o charme mesmo tá na guitarra, que subverte a primeira impressão passada por ser uma banda que toca com violão e percussão. O resultado é um som sincretizado de Jimi Hendrix até Luiz Gonzaga, fazendo escala em Gilberto Gil.
Açocena - Fuleragem, o Fim
Você sabe bem o que acontece comigo
quando eu cheiro de manhã esses ares poluídos
O mangue da 13 já não é mais
aquele imponente de muitos anos atrás
Os prédios sufocam a respiração
escaldando minha cabeça numa tarde de verão
Enquanto a fumaça do beck me traz
pensamentos coletivos e culturas marginais
A pele ressecada do sol
O olho vê além do farol
A boca que saliva selvagem
É o fim da fuleragem
Desde o início foi sempre assim
fidalgo tempo bom pobre tempo ruim
Porém abaixar a cabeça jamais
aos colarinho branco verdadeiros marginais
Enganam o povo na eleição
usam chapéu de couro até apertam sua mão
Promessas falsetes vão te falar
todo es mentira es la única verdad
A pele ressecada do sol
O olho vê além do farol
A boca que saliva selvagem
É o fim da fuleragem
Vem sem medo do agora
que a hora certa vai chegar
E quando for a hora
certamente a gente vai passar
No meio dessa multidão
e o jogo a gente vai virar
Vem sem medo do agora
que a hora certa vai chegar
E quando for a hora
certamente a gente vai passar
No meio dessa multidão
e o jogo a gente vai virar
Aqui está o povo sem medo de lutar
Ficha Técnica
Gravado no Usina Estúdio
Composição: Daguada
Guitarra: Camilo Santana
Violão e voz: Daguada
Percussão: Wilyane Corumba
Captação de áudio: Usina Estúdio
Mixagem: Leo Airplane
Imagens e edição: Felipe Moraes
Fotografia: Nega Lê
Produção artística: Felipe Moraes, Nega Lê e Yanne Angelim