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Álbuns sergipanos da última década - a lista de Alisson

  • Acorde
  • 8 de mai. de 2020
  • 6 min de leitura

Atualizado: 15 de mai. de 2020

São 10 álbuns dificultosamente colocados entre os melhores entre 2010 e 2019; de quebra tem 10 menções honrosas


por Alisson Mota


Dilemas, impasses, relativizações e uma porrada de subjetividade. Foram esses elementos que permearam a minha seleção dos álbuns da década em Sergipe. Muita coisa boa foi lançada e tive que estabelecer critérios, para além do gosto pessoal, inexoravelmente presente.


Para selecionar, levei em consideração em primeiro lugar a originalidade da obra, além do cuidado com as composições e a gravação do material em si, além da relevância e do impacto a nível local e nacional. Sem mais delongas, vamo lá. Não estabeleci um ranking porque os álbuns têm relevâncias parecidas. A lista está em ordem alfabética das bandas.




Cidade Dormitório - Fraternidade-Terror (2019)


Com certeza é o álbum mais millenial da lista. O trabalho segue um fio baseado nas inquietações de um jovem adulto e tem robustas influências do indie lo-fi, como o Boogarins do começo da carreira e Daniel Johnston. Mas talvez o grande lance da banda seja o vocal bêbado - e agora notadamente nordestino - de Yves Deluc.


Fraternidade-Terror é o primeiro álbum da banda, sucedendo o EP Esperando o Pior, e marca a consolidação da identidade estética, que conta com as composições de Yves (voz e guitarra), acompanhado de Fábio Aricawa (bateria) e Lauro Francis (baixo), além de João Mário (guitarra) nas apresentações ao vivo.



Madame Javali - Luz Dentro do Caos (2019)


Provavelmente um dos projetos mais ousados da lista. A banda teve origem na fusão da poesia falada com a música. Mas diferente das outras bandas que investiram nessa estrutura, a Madame consegue ser bastante inventiva musicalmente e cria atmosferas perfeitas para a poesia de Allan Jonnes. As crônicas trazidas nas canções são recheadas de referências de Aracaju, mas dialogam universalmente.


A herança dessa fusão entre poesia e música é direta das contribuições poéticas de Allan com a banda Alunte, que tinha 2/3 na Madame Javali. Hoje a banda conta, além de Allan no vocal, com João Mário (guitarra), Luno Torres (baixo) e Gabriel Perninha (bateria). Uma das minhas bandas preferidas do mundo.



Manifestação - Manifestação (2017)


As bandas de reggae em geral incorrem em três erros: a mesmice melódica, onde as músicas soam muito parecidas; a necessidade de mostrar alguma crença que chega quase no nível de bandas religiosas, crença nem sempre refletida nas práticas da vida de quem compõe as canções; referências genéricas e vazias à resistência social, resistência quase sempre atrelada ao uso de substâncias psicoativas.


A Manifestação no seu álbum de estreia deixa esses três erros bem longe. A banda sai da caixinha do compasso tradicional do reggae e coloca vários elementos nas canções, como dissonâncias e guitarras jazzísticas. As mensagens de resistência sempre trazem embasamento e vivências - o álbum começa parafraseado Malcolm X. Um belo registro do reggae sergipano, com potencial de alçar voos mais altos.


A Manifestação é formada por Neto Ramos (vocal), Rafael Portugal (guitarra), Ruan Duran (baixo), Marcelo Gomes (teclado) e Ras Pedrão (bateria).



Marcelle - DiscoNeXa (2019)


Marcelle há alguns anos já vive e trabalha em São Paulo, onde participou da formação da banda Olympyc. Disconexa é o terceiro disco solo da cantora e mesmo sendo urbano, bem localizado na música que se desenvolve no grande centro urbano, traz peculiaridades e idiossincrasias que só se fazem presentes devido às influências de sua terra natal.


Disconexa é um registro que sincretiza com muita classe as influências do arrocha. Vários artistas já tentaram percorrer esse mesmo caminho, mas sempre fica uma ponta solta: às vezes a síntese fica galhofada; outra vezes parece mais tango do que arrocha. Aqui, Marcelle coloca a malemolência desde a concepção, trazendo esses elementos na base das composições. Não por acaso, o álbum figurou entre os melhores nacionais de 2019, inclusive da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA).



Maria Scombona - UnNu (2012)


O último registro da Maria Scombona apresenta a sonoridade da banda de forma cristalizada, madura. Todas as canções do funk de coco da banda são apresentadas sem rodeios e numa naturalidade que é proveniente da maturidade sonora da banda. UnNu foi lançado 10 anos depois do disco de estreia da banda e durante a discografia a evolução estética é facilmente verificável.


Em UnNu, a banda tem a intenção de se mostrar desnudada, como o título sugere (Un de unidade, Nu de nu mesmo). As conversas entre Henrique Teles e a guitarra de Saulo Ferreira são uma das misturas mais originais que eu já tive a oportunidade de ouvir. Tudo isso numa cama king-size bem fofinha composta por Robson Souza (baixo) e Rafael Jr. (bateria).



Renegades of Punk - Coração Metrônomo (2012)


Na boa, pra mim a Renegades é a melhor banda de hardcore punk do Brasil. Falo isso sem qualquer resquício de bairrismo (talvez um pouco, vá lá). A originalidade deles é algo que eu não consigo enxergar um par neste país. Só consigo ver uma correspondência na Europa, com bandas como a francesa La Fraction. É muito foda ter uma mulher à frente do projeto, cantando com um dos timbres mais raivosos que eu já ouvi na vida.


A influência das bandas straight-edge (minha vertente preferida do punk, ainda que eu não siga nada do que eles pregam) é visível, mas o som é muito particular, a execução dos instrumentos por Daniela Rodrigues (voz e guitarra), João Mário (baixo) e Ivo Delmondes (bateria) formam um som totalmente novo, algo muito difícil quando se trata de punk, que por vezes, assim como o reggae, é tratado de forma hermética.



Sandyalê - Árvore Estranha (2019)


O segundo álbum de Sandyalê é uma virada radical na sonoridade consolidada em seu primeiro trabalho, Um no Enxame (2014). Se no primeiro álbum é flagrante a inspiração do orgânico com pitadas de triphop, o segundo é mais dançante, apresenta uma sonoridade mais 'agressiva' e psicodélica. Baseado em batidas eletrônicas e sintetizadores, se baseia na new wave e no post-punk para construir uma nova síntese.


Talvez o álbum seja um dos poucos registros no Brasil com a sonoridade já explorada por outros projetos de vanguarda, baseados principalmente na Europa. Liricamente, traz experiências pessoais, que, uma vez desnudadas, adquirem sentido coletivo, marca presente desde os primeiros trabalhos. O álbum conta com maioria das composições por Sandy Alexandre (voz) e contou com produção musical de Dudu Prudente, numa sinergia presente desde o início do projeto.



Taco de Golfe - Folge (2018)


O álbum marca o primeiro esforço do trio em produzir um trabalho minimamente coeso, após o EP de estreia, Cato (2017), gravado com o intuito de participar da seleção para o festival Zons daquele ano. As canções surgiram de jams e experimentações que a banda fez no intervalo de mais ou menos um ano. O resultado são faixas instrumentais robustas, que são capazes de atribuir a alcunha de power trio à banda.


Bebendo de referências diversas, do heavy metal ao jazz e do math ao funk-rock, a Taco cristaliza aqui sua sonoridade, lapidada no álbum lançado neste ano. É uma banda única que soa universal, cuja sonoridade tem potencial pra rodar o mundo todo. O trio é Gabriel Galvão (guitarra e pedais), Filipe Williams (baixo) e Alexandre Damasceno (bateria).



The Baggios - Vulcão (2018)


O quarto disco da representante sergipana em duas edições do Grammy Latino é o registro mais coeso - e ousado - de sua discografia. Vulcão é diferente dos antecessores por consolidar a exploração de sonoridades que transcendem o blues-rock do início da carreira, atribuindo camadas e baseando-se em batidas para compor. Afrobeat, música tuaregue, black music... Esses são alguns exemplos de referências fora da caixinha que a banda explorou no seu último registro.


Vulcão marca também a participação do terceiro elemento da banda, Rafael Ramos (teclados e sintetizadores), desde o início das composições. Ele participa desde a época do Brutown (2016), mas só em Vulcão a sua participação se deu desde a concepção das canções. The Baggios, além de Rafael, conta com Julio Andrade (voz e guitarra) e Gabriel Perninha (bateria).



Tori - Ignatia, (2019)


Tori apresenta em seu segundo álbum uma complexidade sinistra, digna das bandas mais reconhecidas do que se convencionou chamar de neopsicodelia. A construção é complexa, repleta de camadas e dissonâncias que compõem uma atmosfera onírica que permeia todo o trabalho. Interessante também observar as instrumentalizações vocais de Victória Nogueira.


O trabalho é uma síntese de referências de música brasileira, principalmente a MPB dos anos 70, e as pérolas da psicodelia em todo o mundo, como Melody's Echo Chamber. A banda conta com Vitória Nogueira (guitarra e vocal), Júlia Rocha (teclados), Beatriz Linhares (baixo), Alexandre Damasceno (bateria), Ricardo Ramos (guitarra) e João Mário (percussão e sintetizadores).


Menções Honrosas


Alex Sant'anna - Enquanto Espera (2015)

Allen Alencar - Esse não é um bom verão para nós (2019)

Alunte - A Morte do Seu Super-Heroi (2015)

Dami - Acordando (2015)

Dry - Amargura (2019)

Família Bocasecas - Acorda Vagabundo (2017)

Pedro Luan - O Que Há de Segredo (2019)

Plástico Lunar - Dias Difíceis no Suriname (2015)

The Baggios - Brutown (2016)

Zeitgeist - A Dança dos Mortos (2019)


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