23 de dez de 2019
Atualizado: 12 de fev de 2020
por Alisson Mota
Mesmo o fim de ano sendo tradicionalmente uma época de poucos lançamentos, a produção continua a todo vapor: singles e clipes dominaram o fim de ano.
Ainda em novembro, a rapper sergipana lançou o single e o clipe de Capeta Gasolina. A produção possui referências narrativas e estéticas dos filmes da franquia The Purge, num futuro pós-apocalíptico onde é permitido cometer crimes, até homicídios, em momentos determinados pelo governo. Nesse contexto, Isis reúne uma seita para revidar a violência sofrida historicamente pelas travestis e transsexuais.
Importante também frisar que outro clipe de Isis Broken, O Clã, ganhou o prêmio de Melhor Figurino no Music Video Festival, uma das maiores premiações de videoclipes no Brasil. A produção concorreu com gente do quilate de Criolo, demonstrando a importância e a projeção da conquista.
A The Baggios lançou o clipe de Vulcão, faixa-título do disco lançado em 2018. O vídeo é um continuação de outro clipe lançado este ano, Bem-Te-Vi. Outra música do disco vai ganhar clipe, Limaia.
Você pode saber mais sobre os clipes, disco e a carreira da banda aqui.
Também no começo de novembro, Maeed lançou single e clipe de uma vez só. Nóis é Maloka é é o terceiro single que o rapper lançou neste ano, depois de Entre Doses e Bom de Briga. O cara é um dos que mais ajudam a movimentar o trap aqui em Sergipe.
Ainda nesse rolê do rap, quem também lançou clipe foi neorasta, com a música Dias, lançada ainda em outubro. Com Dias, foram cinco singles lançados pelo rapper e produtor sergipano.
A Ordinals lançou o EP Gravidade e na esteira já lançou o clipe uma das músicas do trabalho, Respirar a Cor. A novidade é que esse é o primeiro trabalho da banda feito exclusivamente em português. O arranjo de guitarras é, sem dúvidas, um dos pontos altos do trampo. Com influências principalmente do hardcore melódico e do emocore, a Ordinals se apresenta como uma das mais relevantes bandas da vertente no Nordeste.
A cantora sergipana radicada em São Paulo lançou clipe para Silêncio, composta em parceria com a baiana Luedji Luna. Silêncio dialoga diretamente com a imigração, abordando as diferenças culturais e o fato de estar um lugar que não apresenta o mar, a calma, características do seu local de origem. A canção faz parte de Opará, disco lançado em 2019 e que leva o nome indígena do rio São Francisco. Outra música do disco, Agô, também ganhou clipe neste ano.
Outro sergipano radicado em terras paulistas que também lançou trabalhos neste fim de ano foi Allen Alencar. Em novembro lançou o single Kabul, colocando no mundo, na semana seguinte, Esse não é um bom verão pra nós, seu primeiro disco solo. O músico já tem um currículo extenso de colaboração com nomes como Curumin, Fafá de Belém, Criolo e Russo Passapusso e agora coloca sua voz e composições pra jogo.
Esse não é um bom verão pra nós é talvez o disco "mais paulista" de artistas sergipanos. Tem uma atmosfera onírica e parece ser daqueles para se ouvir dentro de um apartamento numa tarde chuvosa. As letras são, em sua maioria, introspectivas, dando a entender que são uma crônicas pessoais de Allen. Ao mesmo tempo, este não é um disco daqueles mais melodramáticos. É melancolia solar. Um dos preferidos da lista.
Mais um sergipano radicado em outras terras é Felipe Nunes, que apresentou em novembro o single Mandinga. A música faz parte do seu primeiro EP, Entropykos, a ser lançado. Há 7 anos no Rio Grande do Norte, o artista assume um trabalho solo depois de participar do Sarau Insurgências Poéticas e sendo parte das bandas Agô e Tríade Rebelde.
A canção transita entre o orgânico e o eletrônico, num som ancestral e antenado, que conta com a produção de Pedras, responsável por trabalhos de bandas do RN como Luísa e os Alquimistas. A concepção da música tem origem na diáspora negra, dialogando com sua cultura e ancestralidade.
Felipe diz: "Mandinga nasce da necessidade de cantar aquilo que alimenta a nossa força para encarar os desafios dessa terra tropical em permanente transe. Mandinga é amuleto, feitiço, proteção. O antigo reino do Mali, também fora conhecido como reino Mandinga. Lá, alguns guerreiros entre travessias e guerras, carregavam apenas seus amuletos para proteção nos combates. A afro-diáspora espalhou a sabedoria dos mandingueiros. A capoeira absorveu. Todo bom capoeirista precisa da “Mandinga” para observar com atenção, agir na hora certa, se esquivar para contra-atacar. Saber cair, para rapidamente levantar. A luta está longe de terminar. O jogo só termina quando acaba de jogar”.
Entre novembro e dezembro, o blues-rock da Três Terços apresentou dois novos singles, Sergipe Rockstar e Entre o Mainstream e o Underground. Além de Calango Blues, também lançada neste ano, é interessante observar como as canções da banda são metalinguagem, colocando aspectos, crônicas e dilemas da vida de músico nas composições.
Fechando a série de singles lançados durante todo o ano de 2019, Arthur Matos apresentou em dezembro a música Onde as Luzes Não Chegam, que conta com participação de Hélio Flanders, do Vanguart. Todas as músicas lançadas neste ano comporão o disco Você, que será lançado no início de 2020.
Primeiro lançamento de estúdio depois do EP apresentado em 2016, a Mestre Madruguinha apresenta o novo single. Há muito tempo a música já é peça certa nas apresentações da banda, mas agora ganhou as plataformas virtuais, no prenúncio do aguardado disco dos cumbieros. Impossível escrever sobre o single e não ressaltar a voz de Everton Mesquita, que tá segurando a marimba do vocal da banda de forma, no mínimo, classuda.
Recentemente, a banda lançou também o clipe de Cumbia Madrugada, um dos clássicos do primeiro EP.
Alex Sant'anna começou em novembro a mostrar a cara do seu novo disco, que vai sair no ano que vem. Desde então, apresentou dois singles: Algo Novo, em parceria com o baiano Marco Vilane, e O Peso das Coisas, com participação de Jaque Barroso. Ambas as canções mostram o caminho interessante que Alex tem trilhado na concepção do novo álbum: é ancestral, mas muito longe de ser parado no tempo. Diferente do que ele canta na letra de Algo Novo, Alex mostra que dá pra ter o que é novo sim. Ô se dá.